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O segundo lugar é o primeiro dos últimos. A frase popularizada por Ayrton Senna pede moderação no uso. Pode funcionar muito bem como motivação: todo atleta compete pela vitória, pelo título, pelo ouro — como se nenhum outro resultado fosse suficiente. Mas, se tomada ao pé da letra, ajuda a transformar o esporte num moedor de gente. Se nenhuma posição depois da primeira serve para nada, jogaremos muitos resultados extraordinários na vala comum da nossa história esportiva. Hoje, por exemplo, Hugo Calderano enfrenta Wang Chuqin, o melhor jogador do planeta, na final do Mundial de tênis de mesa. Se vencer, trará para o Brasil um título inédito. Mas e se perder (bato na madeira três vezes enquanto escrevo), esqueceremos o que ele fez para chegar até lá?
Hugo disputa uma modalidade amplamente dominada por um país. Na China, onde é chamado oficialmente de ping-pong (por causa do mesmo brinquedo importado dos Estados Unidos que por aqui virou pingue-pongue), o tênis de mesa se espalhou por praças, escolas e outros ambientes públicos, e é praticado diariamente por gente de todas as idades. A diversão de mais de um bilhão de habitantes é também a maior peneira de um esporte no mundo. Há tantos chineses jogando em alto nível que se costuma dizer que as seletivas nacionais para qualquer competição podem ser mais fortes do que o evento internacional.
Nos Jogos Olímpicos, há um limite de dois inscritos por país, o que normalmente torna a medalha de bronze a única em disputa para o resto do mundo. Paris-2024 foi uma exceção: um dos chineses ficou pelo caminho, e Hugo enfrentou um sueco na semifinal. Entrou como favorito, por ter um retrospecto melhor contra o rival, mas não conseguiu se recuperar de um começo ruim, perdeu a vaga na final e a confiança para a disputa do bronze. Fez a melhor campanha de um mesatenista brasileiro na história olímpica, mas ficou com o quarto lugar — que pode não ser o primeiro dos últimos, mas nos Jogos é o mais doloroso, tão perto e tão longe de uma medalha.
A imagem de Hugo Calderano agachado, de costas para os repórteres, interrompendo a entrevista após a eliminação para chorar em silêncio, é uma das mais marcantes dessa edição dos Jogos. No “Hello LA”, programa olímpico do SporTV, ele disse a mim e a Fabi Alvim que não estava encontrando o prazer de jogar nas primeiras competições depois de Paris. Mas, na mesma temporada, venceria a Copa do Mundo, produzindo outra imagem emblemática: a bandeira do Brasil erguida acima de três da China na cerimônia de premiação. Feche os olhos, transporte-se para julho deste ano e imagine um clube brasileiro campeão do Mundial da Fifa com europeus do segundo ao quarto lugares. É mais ou menos por aí.
Neste domingo, um brasileiro se tornará o primeiro atleta nascido fora da China, do Japão ou da Europa a disputar a final do Campeonato Mundial. Ainda mais extraordinário do que esse feito é tê-lo alcançado tão pouco tempo depois da maior decepção de sua carreira. O caminho que leva do quarto lugar para cima pode ser longo e tortuoso, mas Hugo Calderano conseguiu mudar seu rumo com a velocidade de uma bolinha de tênis de mesa. Só falta ela cair do lado certo hoje.
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