

O Brasileirão que começou neste fim de semana é o vigésimo seguido no formato de 20 clubes, jogando todos contra todos em turno e returno, sagrando-se campeão quem fizer mais pontos. O que hoje parece banal foi, por muito tempo, considerado impossível. O formato de pontos corridos, consagrado nos campeonatos nacionais da Europa, era tratado como uma importação de costumes impossível de fazer — embora tenha sido amplamente utilizado aqui mesmo, nos nossos Estaduais. E enquanto durou essa convicção, faltou outra: de 1971, quando o Campeonato Brasileiro passou a ter esse nome, até 2003, quando começou a mudança (gradativa, com 24 inscritos, depois 22), a competição teve como marca nunca repetir a fórmula de disputa de um ano para o outro.
Nessas 20 temporadas, o formato pegou, a premiação aumentou, muitos clubes se reestruturaram financeiramente e contrataram jogadores melhores, o público voltou aos estádios. Uma evolução que a gente corre o risco de não perceber, em meio às queixas do dia a dia. Afinal de contas, vocês da imprensa estão sempre apontando os defeitos, tentando mostrar o que precisa mudar. Quem me acompanha neste espaço deve saber de cor a lista de problemas: o calendário é inchado, a arbitragem não é profissional, os gramados não são padronizados, o combate à violência (física e moral, dentro e fora do campo) não é efetivo. E não sou o único: outros espaços de opinião tratam constantemente desse quarteto mágico das nossas mazelas.
No Brasileirão de 2025, elas vão aparecer de novo. O campeonato já vai começar todo desfalcado por lesões sofridas no começo da temporada: o Santos estreia sem Neymar; o Flamengo, sem Danilo; o São Paulo, sem Oscar —só para citar três das maiores novidades da janela de transferências. Os Estaduais terminaram envoltos em reclamações contra os árbitros, culminando com mais uma expulsão de Abel Ferreira na final do Paulista. No fim do ano passado, um grupo de jogadores renomados publicou um manifesto contra os gramados artificiais. E, finalmente, torço para estar errado, mas acho difícil que a primeira rodada —que começa pouco depois de eu entregar esta coluna — termine sem o primeiro episódio de violência da competição.
Mudar essa situação cabe aos clubes, que se uniram às federações para reeleger Ednaldo Rodrigues por aclamação por acreditarem que o presidente da CBF será mais maleável, no segundo mandato, a entregar o comando do Brasileirão a uma liga (melhor acreditar nisso do que achar que votaram nele pela maneira como gere a seleção brasileira). Se conseguirem fazer o básico —se unir numa única entidade, em vez das duas atuais, que já forem três —, já terão dado um passo importante.
Mas precisam também modernizar a forma de pensar. Ao falar sobre o combate ao racismo no futebol, o presidente do Flamengo repetiu o velho discurso de que o importante é o clube não ser punido. E outro dirigente, ao ser apresentado a um projeto de profissionalização dos árbitros, respondeu que é algo muito caro para os clubes assumirem (hoje, toda a arbitragem de uma temporada custa R$ 30 milhões, o preço de um jogador mediano no mercado de transferências). Na base do farinha pouca, meu pirão primeiro, vai levar muito mais de 20 anos para chegar a outro patamar nessa evolução.
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