

O Brasil teve 2.827 corridas de rua regularizadas em 2024. Esse é o número dos eventos que têm Permits, concedidos pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e pelas federações filiadas e que foi apresentado no 3º Summit ABRACEO/CBAt, em São Paulo. A ABRACEO é a Associação dos Organizadores de Corrida de Rua e Esportes Outdoor.
Os Permits são previstos em lei, no Artigo 67 do Código de Trânsito, e incluídos na Lei Geral do Esporte. São selos de excelência (ouro, prata e bronze) que agregam valor aos eventos e asseguram a integridade física dos atletas em relação a questões como contratação de seguro, percurso medido por oficiais, pontos de hidratação, largada e chegada bem organizadas, premiação, quantidade de ambulâncias, etc.
Esse número levantado pela ABRACEO, no entanto, não corresponde ao total de corridas no país. Isso porque a grande maioria não tem Permit.
Segundo as ticketeiras, plataformas online que comercializam ingressos para estes eventos, o Brasil teve cerca de 8.500 corridas de rua em 2024. Ou seja, 67% das corridas realizadas em 2024 não tinham o selo.
— Corrida de rua sem Permit é clandestina, desrespeita a lei. O artigo 153, da Lei Geral do Esporte, veio para regulamentar esse mercado, para que os bons profissionais prosperem, que as empresas entendam o que tem por trás das corridas de rua: pessoas buscando experiência, qualidade de vida e superação — declarou Wlamir Motta Campos, presidente da CBAt.
Para 2025, segundo Daniel Krutman, CEO do Ticket Sports, a maior plataforma de inscrições para eventos esportivos da América Latina, a projeção é de crescimento de 26% em relação a 2024.
Segundo seu cálculo, baseado nos dados da sua plataforma (que comercializou cerca de 32,3% dos eventos abertos ao público em 2024 e não mapeia dados sobre Permits) e em outros 70 sites de inscrição, esse número pode passar de 10.700 corridas.
De acordo com a ABRACEO, o número de corridas regulamentadas deverá crescer cerca de 30% em 2025 (3.600).
— Tirando o fato de que é obrigatório, nosso desafio é conscientizar de que é importante. Acho que devido aos processos em algumas regiões, esses Permits não são exigidos. E o perfil dos organizadores também muda muito. Há grande número de novas e pequenas empresas que acreditam que qualquer economia vale a pena. Cabe ao município exigir este selo — declara Paulo Carelli, diretor da ABRACEO, que explica que o valor do Permit varia de região para região, número de corredores, etc.
Paulo explica ainda que não há um padrão entre os municípios para aprovações e que “esta é uma falha”.
— Qualquer problema que possa ocorrer, arbitragem de resultado, discussão sobre medição de percurso, alguma questão de saúde, com o seguro ou munícipe, o organizador tem de estar respaldado juridicamente e em termos de dividir responsabilidades.
Segundo levantamento inédito da ABRACEO, São Paulo é o Estado com mais corridas regularizadas, com 734. No ano anterior, foram 550 (o total mapeado pela ABRACEO em 2023 foi de 2.186). Amapá e Roraima não têm nenhuma corrida de rua com Permit.
Paraná aparece em segundo lugar com 335 corridas em 2024 (234 no ano anterior). E fechando o Top 3, Santa Catarina realizou 280 corridas em 2024 (252 em 2023).
O Estado do Rio de Janeiro é um caso à parte. O número total mapeado pela ABRACEO é 20 (15, em 2023). Segundo a Prefeitura, em 2024 apenas a cidade do Rio recebeu 173 corridas de rua. E em 2025, a previsão é de que a cidade tenha 200.
Segundo a Secretaria Municipal de Esportes do Rio de Janeiro, que autoriza as corridas de rua na cidade do Rio, “o Permit, na verdade, é uma chancela do órgão maior esportivo para tornar a prova oficial, no sentido da homologação dos tempos”.
Em nota explicou: “há o entendimento de que ele é mais um acerto entre o organizador da prova com a Federação local ou a Confederação do que propriamente com a Prefeitura. O alvará para o evento só é concedido mediante a comprovação de que a corrida tem toda a estrutura e os documentos necessários, como ART da estrutura com a planta da Arena, liberação dos Bombeiros (DGDP), número do Processo de Publicidade, Licença Sanitária (IVISA), do Iphan (dependendo do local), equipe médica completa, equipe de limpeza e postos de hidratação”.
A Secretaria Municipal de Esportes disse ainda que “mantém conversas com a nova administração da Federação do Rio de Janeiro para intermediar um acordo com os organizadores de provas, de forma que o valor cobrado para a concessão dos Permits não torne os eventos inviáveis”.
João Traven, diretor da Spiridon e fundador da Maratona do Rio, diz que os Permits, apesar de serem previstos em lei e que contemplem questões de segurança e a contratação de uma seguradora, são “mais selos de qualidade esportiva”.
— Todas as corridas da Spiridon têm Permit. Realizamos duas no Rio de Janeiro no último final de semana para 500 e 750 pessoas e tinham o selo. Não importa o tamanho. Corrida de rua é um evento esportivo e precisa de chancela de um órgão do atletismo. Muitas empresas estão chegando nesse ramo de corrida de rua e não entendem muito do assunto — declara Traven, que diz que negocia os valores dos Permits e consegue descontos e isenções.
Segundo Krutman, o ano de 2025 está bombando com novas corridas e organizadores. A Ticket Sports teve aumento de cerca de 30% em número de organizadores novos no primeiro trimestre de 2025, se comparado ao mesmo período de 2024. São 850 organizadores-clientes. Em 2024, a Ticket Sports realizou 3.100 eventos (destes, 87,3% foram corridas, ou seja, 2.706).
— Toda vez que se tem um ano muito intenso, com bons resultados de vendas para o setor, como foi 2024, o ano seguinte normalmente é marcado por uma onda de empreendedorismo. É cíclico — diz Krutman. — Mas, muitos não vão sobreviver. Esse é um negócio de consistência e não de chegada.
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