
É inegável que o Brasileirão deste ano tem, com Neymar, um atrativo a mais. Embora longe da melhor forma (ainda em recuperação de lesão, só deve estrear daqui a uma semana), o atacante do Santos se mantém uma estrela global. Sua presença deve atrair mais atenções de fora do país. E esse holofote leva a questões como: que campeonato é esse que será visto? E qual é seu tamanho entre outras das principais ligas do planeta?
Ainda que com problemas já conhecidos do torcedor — como arbitragem e qualidade dos gramados —, a Série A não está tão distante dos campeonatos nacionais do futebol europeu. Não se trata de comparar a qualidade de elencos e simular confrontos entre eles. Mas, sim, de quesitos que definem as ligas enquanto produtos, como capacidade de atrair público, geração de receitas e nível de competitividade.
Financeiramente, o Brasileirão movimenta hoje mais dinheiro que as ligas de segundo escalão da Europa. Em 2023 (ano mais recente com todos os balanços já publicados), os clubes da Série A arrecadaram um total de R$ 8,8 bilhões, de acordo com relatório da consultoria Convocados. A receita é superior às registradas no mesmo período nas ligas holandesa (856 milhões de euros) e portuguesa (758 milhões de euros) e divulgadas em março pela Uefa.

Nesse quesito, um abismo segue separando o Brasileirão da Premier League (Inglaterra), da La Liga (Espanha) e da Bundesliga (Alemanha). Mas o crescimento recente nas receitas dos clubes diminuiu a distância para o Italiano e, principalmente, para o Francês.
— Por mais que o Brasil seja uma das dez maiores economias do mundo, a renda média da população é muito menor do que na Europa. E também tem a desvantagem do câmbio. Então, o faturamento vai ser sempre menor. Mas vejo, sim, o Brasileiro se aproximando da França — avalia o economista César Grafietti, da Convocados. — A França não cresce muito. Suas receitas de TV caíram bastante, enquanto o Brasil teve um aumento de publicidade, com a entrada das bets, e de transmissão, com o novo ciclo assinado agora.
Em 2023, as receitas de TV no Brasil já eram superiores às da Ligue 1. A liga francesa sofre um derretimento comercial, provocado pela crise nos direitos de transmissão doméstica e consequente perda da força financeira dos clubes.
Enquanto a publicidade e os direitos de TV evoluíram no Brasil, a bilheteria ainda tem larga margem de crescimento. A edição de 2024 fechou com média de 26.489 torcedores. Foi a segunda maior da história da competição, mas abaixo das cinco principais ligas europeias, da segunda divisão alemã e do Argentino. Mesmo sendo um dos torneios que mais oferecem competitividade.

Nos últimos 10 anos, o Brasileiro se sobressai tanto no número de campeões distintos (cinco) quanto no de times diferentes que terminaram nas quatro primeiras colocações (11). Está à frente das ligas europeias, que utilizam o mesmo formato de pontos corridos.
O calcanhar de Aquiles são mesmo os direitos internacionais. Trata-se de mercado no qual o teto para crescimento é baixo. Com exceção do Inglês e do Espanhol, as demais ligas têm dificuldade em faturar com o público de fora do país. Na maioria dos casos, a transmissão é negociada por valores baixos — quando não é gratuita (apenas para visibilidade da marca).
— Não há muitos grandes mercados, e há cada vez mais jogos (de todas as competições). Há duas ligas que se vendem. O resto faz um esforço para estar nos mercados. E, quando olho para o Brasil, não vejo um produto que justifique o interesse e grandes valores. Fora o fuso — opina Grafietti. — “Ah, o Brasileiro é um dos mais competitivos do mundo”. Se não for do próprio país, o torcedor não está nem aí para a competitividade. Ele quer ver Tottenham x Liverpool, mas não Fulham x Brentford. Quer clubes que são grandes marcas e a possibilidade de ter bom jogo. Não pesa se o campeonato vai ser competitivo ou não.
Se a chegada de Neymar pode começar a mudar este cenário? Só o tempo dirá.
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