

Passam-se os anos, campeonatos continuam a ser prejudicados por erros de arbitragem. Mal começou o Brasileirão de 2025, a CBF já afastou juízes de duas partidas e anunciou um cursinho no Rio de Janeiro neste mês, parte do que chama de projeto de profissionalização. Os esforços incluem a invenção de comitê com sete pessoas, consultores internacionais, ranking de árbitros, escola — toda uma parafernália que faz tudo, menos profissionalizar a categoria.
Um juiz de primeira divisão no Brasil recebe R$ 7.280 por jogo que apita, se for chancelado pela Fifa, ou R$ 5.250, se tiver somente o escudo da CBF. Em 2025, houve um aumento de 5% em relação ao ano passado, o que faz com que tenha havido somente a correção da inflação, que ficou no mesmo patamar. Além disso, há o pagamento de diária entre R$ 160 e R$ 990, dependendo do deslocamento que o árbitro fizer, terrestre ou aéreo, dentro ou fora do estado.
Repare: essa é a realidade da Série A. Daí para baixo, obviamente, piora muito. Significa que um árbitro, além de ter a mãe xingada pelo estádio quarta e domingo, é a única figura amadora de um espetáculo que movimenta bilhões de reais. Ele precisa encontrar dinheiro para sua sobrevivência em outros meios, inclusive para seu próprio preparo — físico, psicológico, técnico —, até que um dia tenha o privilégio de ganhar aquela bonança toda da elite nacional.
A título de comparação, um árbitro da La Liga, primeira divisão da Espanha, ganha R$ 925 mil por ano em salários, mais R$ 31 mil por partida apitada. Os valores logicamente ficam maiores quando convertidos de dólar para real, mas posso colocá-los na moeda que usou o The Athletic, responsável pela apuração: US$ 157 mil fixos e US$ 5,3 mil por jogo. Na Inglaterra, na Itália, na Alemanha, na França e nos Estados Unidos, valores variam, mas são todos profissionais e bem pagos.
Há países que adotam o vínculo empregatício, há os que terceirizam o serviço por meio de empresas. Este papo precisa ser encaminhado levando em consideração a carga tributária, o bolso que vai pagar pelo salário deles — por óbvio, o organizador do campeonato, seja a liga de clubes ou a federação encarregada —, e o estágio do Projeto de Lei 846, que tramita no Congresso desde 2019, ainda sem sucesso. Seja como for, deve-se profissionalizar já.
A situação chegou a tal ponto do ridículo que, apesar do amadorismo, os seus uniformes têm sido usados para fins de publicidade. Laranjas ou amarelos gritantes, os juízes estão em evidência na transmissão da TV, e as federações sacaram a oportunidade com a ajudinha de agências de marketing esportivo. Faz alguns anos que há neles marcas de academias, instituições financeiras, casas de apostas, e por aí vai. Quanto eles se apropriam dessa verba? Zero.
O árbitro tem seu direito de imagem, mas ele o cede de graça para a federação faturar alguns milhões, enquanto ele mesmo não ganha salário algum. Na melhor das hipóteses, diárias e pagamentos fixos por partida. Ele precisa custear a própria trajetória “profissional” no futebol com dinheiro tirado de outras fontes, no suor, enquanto atletas, treinadores e dirigentes na elite ganham muito bem, obrigado. O último amador. E, quando erra, a mãe que você xinga é a dele.
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