

Não pude esperar o fim de Real Madrid x Barcelona, pela final da Copa do Rei da Espanha (o time catalão venceu na prorrogação), para escrever esta coluna. Mas também não pude fugir de falar desses dois rivais gigantes – tão distantes da realidade financeira do futebol brasileiro e tão próximos no aspecto cultural. Talvez por nunca terem aberto mão do modelo associativo, seus dirigentes ainda tomam decisões movidos pela paixão e se deixam influenciar pela opinião dos torcedores, muito mais do que uma SAF ou um clube com dono costuma fazer.
O Barcelona é o pobre menino rico do futebol europeu. Há anos ouvimos falar da crise financeira em que o clube se meteu. Messi, Neymar e Suárez foram embora, e era fácil imaginar que sem eles se encerraria uma era de conquistas. Mas foi curiosa a forma como o Barça lidou com a falta de dinheiro: contratou Lewandowski e Raphinha, que formaram com Lamine Yamal, mais um fenômeno vindo de La Masia, o melhor trio de ataque da temporada. Além de enfrentar o maior rival na final da Copa do Rei, lidera o Campeonato Espanhol e chegou com pinta de favorito às semifinais da Liga dos Campeões da Europa. É um modelo inspirador para o Corinthians, que também investiu na montagem de um time que claramente não tem condições de pagar e está prestes a fechar com o último treinador da seleção brasileira para dirigi-lo.
O Real Madrid não tem problemas com as finanças. Continua nadando em dinheiro e levando adiante seu projeto de contratar todos os melhores jogadores de futebol do mundo. O último anunciado foi Alexander-Arnold, lateral inglês que nem de longe tem a badalação de Vini Jr, Mbappé e Bellingham, mas vai acrescentar qualidade a uma posição carente. Sim, o Real tem posições carentes, apesar de toda a grana. É que o presidente Florentino Pérez, que ficou famoso por juntar Ronaldo, Zidane, Figo, Roberto Carlos e Beckham no mesmo elenco, nunca mais perdeu a mania de colecionar galáticos. Encaixar as peças – que nem sempre se complementam – é problema de Carlo Ancelotti, o treinador que a cada temporada se vê ameaçado de demissão até conquistar um título. É o modelo que Pedro Lourenço parece querer adotar no Cruzeiro, mas Leonardo Jardim não compartilha do estilo de liderança tranquila de Ancelotti, e já perdeu a paciência com Gabigol (por render pouco) e Dudu (por falar muito).
Também na gestão de jovens talentos os rivais se assemelham no erro. O Barcelona não quis Vitor Roque, e acabamos de descobrir que Carlo Ancelotti não queria Endrick. Os dois atacantes brasileiros chegaram assim que completaram 18 anos, para disputar espaço com titulares caros, badalados e talentosos. Um já voltou para o Brasil, e agora tenta se encaixar no Palmeiras. O outro continua, esperando para saber se o treinador que criticou sua cavadinha vai continuar no cargo. Se cair, como a imprensa espanhola já especula mais uma vez, deixará de ser um problema para ele no clube, mas poderá atrasar seu caminho na seleção brasileira – que não desiste de contratar Ancelotti, por quem continua esperando um mês depois de demitir Dorival Júnior.
Talvez seja uma lição para os clubes brasileiros, talvez apenas um consolo: quem tem muita tradição, muito dinheiro e muito poder também pode ter a capacidade de fazer grandes bobagens.
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