

Por alguma razão, a primeira imagem dos Jogos Olímpicos que tenho registrada na memória é da seleção brasileira feminina de vôlei. É meio confuso, porque eu juro para mim mesmo que vi alguma coisa de Montreal-1976 ao vivo na hoje sessentona e então ainda jovem TV Globo. Mas o time de Isabel, Jacqueline e Vera Mossa só estrearia na edição seguinte, Moscou-1980: três derrotas e um sétimo lugar entre oito participantes, ainda bem longe das performances dominantes que nos acostumamos a ver.
O vôlei da minha infância em Bicas ainda não era um fenômeno. Estava mais para uma notinha curiosa no Almanaque dos Esportes de 1976, o anuário que ganhei de meus pais e que registrava a participação da seleção masculina nos Jogos, essa sim em Montreal. Entre os convocados, Bebeto de Freitas e José Roberto Guimarães, que, como treinadores, ajudariam a colocar o Brasil no mapa de um dos esportes mais praticados no planeta. Na minha adolescência em Juiz de Fora, aí sim a popularidade explodiu. Na mesma quadra em que aprendi os rudimentos da modalidade, no Colégio dos Jesuítas, pouco depois treinaria Giovane Gávio, um dos primeiros atletas fora do futebol a ter status de pop star no país.
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A Globo transmitiu também as façanhas da geração de prata no masculino, como a vitória sobre a União Soviética no Maracanã (sem “zinho”, era o estádio de futebol mesmo), e a conquista do Sul-Americano de 1995 pela seleção feminina, interrompendo a hegemonia do Peru. Foram dois momentos marcantes, de virada no papel: o coadjuvante queria ser protagonista. O resto é história, mas não posso parar por aqui, porque ainda faltam umas boas linhas para terminar a coluna e o objetivo era chegar à Superliga, que encerra hoje, com a final masculina, sua trigésima edição.
Tão relevante quanto a participação das seleções brasileiras nas competições internacionais é o país ter, há tanto tempo, um campeonato nacional de vôlei. Por aqui, não é fácil manter em alto nível qualquer evento esportivo fora do futebol. Mas a Superliga se consolidou como um sucesso de público, nos ginásios e na TV. Clubes como Minas Tênis e Praia, que este ano ficaram fora da final feminina depois de disputar o título cinco vezes seguidas, montaram uma estrutura e construíram uma base fiel de torcedores. O Cruzeiro, fenômeno do masculino, que hoje enfrenta o Campinas na decisão, embora carregue o nome e as cores do clube de futebol, tem organização e recursos próprios.
Claro que há desafios. A pressão do mercado internacional sobre um país que revela tantos talentos é grande: enquanto Osasco e Bauru decidiam a Superliga feminina, Gabi e Carol, estrelas da seleção, se enfrentavam na final da Liga dos Campeões da Europa. Mas os astros acabam voltando para casa, e hoje os veteranos Bruninho e Lucão estarão em lados opostos na busca pelo título masculino. Ter esses talentos circulando por aqui — e também José Roberto Guimarães e Bernardinho, técnicos que levaram o Brasil às suas maiores conquistas no cenário internacional — ajuda não só a manter a competição atraente, mas também cria um ambiente de troca de experiências que favorece a revelação de novos talentos. Não é um ciclo perfeito, mas é uma história de sucesso que merece registro.
E, para fechar com um pouquinho mais de vôlei, nesta terça-feira será realizada a primeira edição do Prêmio Isabel Salgado, que contempla as melhores iniciativas de projetos sociais voltados para o esporte que teve em Isabel, além de uma pioneira, um exemplo.
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