
É no mínimo curiosa a situação em que se colocou, ou foi colocada, a seleção brasileira. O mundo acompanhava o Barcelona 4 x 3 Real Madrid de ontem por uma série de aspectos atraentes: o título em jogo no choque entre os rivais, o descomunal talento de Lamine Yamal, o futebol encantador e arriscado do Barcelona, Mbappé tentando dar vida a um Real que por vezes parece disfuncional…
No Brasil, a interminável novela em torno do próximo técnico da seleção criou uma sensação provavelmente inédita: quanto pior jogasse o time cujo treinador a CBF quer contratar, melhor. Quanto mais constrangedor fosse o domínio do Barcelona — e em dado momento do primeiro tempo tal imposição, de fato, constrangeu o Real e Ancelotti —, menor a chance de a liga espanhola seguir em disputa, e mais acessível para a seleção brasileira atrair logo o seu técnico fetiche.
O que o desgoverno da CBF gerou é a percepção de uma seleção brasileira submetida a seguidos constrangimentos, entre aproximações, flertes, negativas e uma eterna espera pelo italiano. A mais importante camisa do mundo aos pés de um treinador.
Claro que a carreira de Ancelotti não é retratada pela temporada atual do Real Madrid. O italiano é um vencedor em eras distintas do jogo. Não é um revolucionário tático, mas sua capacidade de liderar elencos estelares não pode ser desprezada, a ponto de ter ganhado Liga dos Campeões vendo o Real ser superado taticamente fase após fase. Mas contando com talentos que se sentiam confortáveis. No maior clube do mundo, sobreviveu onde tantos outros se viram asfixiados. Há uma definição iluminada sobre ele — e o colunista se desculpa por não saber a quem creditar: “Guardiola faz brilhantemente o que nunca foi feito. Ancelotti faz bem quase tudo o que outros já fizeram”.
Ontem, o Barça x Real transmitia um contraste entre frescor e fim de ciclo. O talento de Mbappé é brutal. Mas sua chegada tornou ainda mais desafiadora a tarefa de equilibrar o time, como se o Real tivesse trazido uma estrela de que não precisava. E o clássico só terminou 4 a 3 porque, mesmo caótico em vários aspectos, o Real Madrid ainda tinha as enfiadas de bola de Vinicius Junior e a corrida de Mbappé às costas da adiantada defesa do Barcelona. Por falar em Vinicius, outro olhar brasileiro para o eletrizante clássico espanhol: é um tanto desapontador vê-lo cada vez mais desconectado de qualquer ação defensiva.
Do outro lado, o virtual título do Barcelona é um prêmio ao mais empolgante time do mundo na temporada. O placar é idêntico ao que o eliminou da Champions no meio da semana e retrata a opção por um jogo a todo risco, com uma linha defensiva adiantada, no limite máximo da ousadia — ou da imprudência. Liga dos Campeões à parte, a balança de riscos e recompensas tem pendido para o lado do Barcelona graças à enorme capacidade da equipe com bola. Nenhum outro time do mundo teve tantos recursos ofensivos no último ano quanto o de Hansi Flick, governado por Pedri, que dita o ritmo do jogo aos 22 anos como se fosse um veterano. Raphinha, a grande notícia do ano para o futebol brasileiro na Europa, chega à reta final de uma temporada de 34 gols e 22 assistências.
Quanto a Lamine Yamal, o que vemos é a História. Não é somente o fato de estarmos diante de um jovem de 17 anos cujo repertório e personalidade nos dão a sensação de vermos um prodígio prestes a ser eleito o melhor do mundo no ano. A sensação é de que surge um fenômeno que será melhor do mundo por muitos anos. A Champions escapou deste Barça cujo time titular teve, ontem, seis jogadores de até 25 anos. Há um futuro adiante.
Para a seleção brasileira, o futuro ainda é uma enorme interrogação.

Fragilidade
O Fluminense tem muitos problemas. A falta de poder ofensivo do time vai além da ausência de Cano, é anterior à lesão dele. E há o dilema Ganso: é o mais criativo, mas precisa de uma equipe organizada em torno dele. Em Belo Horizonte, sem Ganso, o time produziu muito menos do que indicam os dois gols no placar. E, quando o Atlético-MG pressionou, foi frágil demais. Um jogo ruim dos dois lados foi frenético no fim.
A produção ofensiva do Flamengo, neste momento, não está à altura dos melhores jogos com Filipe Luís. Nem é justo centrar o debate em um só jogador, mas a utilização de Bruno Henrique como centroavante é uma questão. Contra o Bahia, ele voltou a ter participação limitada no jogo, embora tenha sido importante sem bola, pressionando — algo que o time perde com Pedro e Arrascaeta. O elenco é forte, mas tem desequilíbrios.
Um dos grandes desafios do Botafogo na temporada era suprir a perda de três dos jogadores mais decisivos de 2024. Não parecia fácil, mas ao menos contra o Internacional o time achou a eficiência na hora de concluir. Quando chegou ao 4 a 0, o alvinegro tinha só sete finalizações. E três gols saíram em lances de rara felicidade de Artur, Cuiabano e Alex Telles. Foi uma noite de mais eficiência do que de brilho na atuação.
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