

Faz 30 anos que não há um presidente de CBF tão intranquilo quanto Ednaldo Rodrigues — pode ser mais tempo, mas não quero exagerar na declaração. Nem Ricardo Teixeira, nem Marco Polo Del Nero, nem Rogério Caboclo, nenhum ficou tanto em estado de alerta para a súbita destituição. Será que ele cai amanhã? A oposição aposta que sim. “Da semana que vem não passa”, dizem. Até que Ednaldo tira outro coelho da cartola. Desta vez, um italiano, de 65 anos.
Carlo Ancelotti foi anunciado na manhã de ontem, às pressas, antes que o Real Madrid estivesse pronto para um comunicado conjunto, porque o dirigente precisava dele. A intenção é demonstrar à opinião pública que, após mais de dois anos de negociação, vai e vem, e já de descrença e piadas acerca da vinda do técnico, Ednaldo foi capaz de contratá-lo. E que, com ele, as chances de bom desempenho na Copa do Mundo de 2026 aumentam consideravelmente.
A urgência se dá pela iminência dos próximos movimentos de opositores na esfera judicial. Recapitulando: em fevereiro deste ano, o STF homologou acordo que manterá, ou manteria, Ednaldo na presidência da CBF até o fim de seu mandato. A decisão foi tomada pelo ministro Gilmar Mendes, de quem o dirigente se tornou aliado nos bastidores, a ponto de entregar a gestão do braço estudantil da confederação, a CBF Academy, para seu filho, Francisco Mendes.
Acontece que, dentre os signatários do tal acordo, há suspeita de que um deles não está em condições de saúde para tê-lo assinado. Trata-se de Antônio Carlos Nunes de Lima, o Coronel Nunes. A deputada Daniela do Waguinho pediu ao STF o afastamento de Ednaldo e anexou na petição um laudo que atesta ser falsa a assinatura do coronel. Gilmar não afastou o cartola, mas devolveu o caso para o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro — sinal de que a aliança ruiu?
Ontem, Nunes iria a uma audiência no tribunal para demonstrar que pode, sim, assinar um papel. Mas ele não foi. A ausência já era esperada, o que deixava, desde o fim de semana, os burburinhos concentrados nas possibilidades. Se o acordo que mantinha Ednaldo no cargo for invalidado por causa da assinatura falsa, e o dirigente baiano estiver às vésperas de derrota na Justiça, o que acontece com seu mandato? Ele se afasta e nomeia alguém? Ou talvez renuncie?
E então, Ancelotti. Numa entidade profissional, o anúncio da contratação histórica se faria pensando no público, na imprensa, nas relações com os clubes — sobretudo o Real Madrid. Marketing, comunicação, relações institucionais: essas áreas de conhecimento que vocês, moderninhos, teimam em enfiar no futebol. Parem já. A CBF é um governo, e, tal qual, suas ações se pautam pela necessidade de seu chefe de Estado — neste caso, de se manter no poder.
O problema de Ednaldo é que, apesar de bem-sucedido nas outras tentativas de golpe que sofrera, ainda é o mesmo presidente. Centralizador, inconstante, de difícil relacionamento com funcionários e outros cartolas. Mesmo com tanto dinheiro da seleção distribuído para as federações, o apoio delas pode ruir a qualquer momento. Dos clubes, apesar da votação unânime na eleição presidencial, há pouco ou nenhum suporte. Ednaldo fez inimigos demais. Não por acaso, mesmo com antecessores controversos, seu sono deva ser o mais intranquilo.
This news was originally published on this post .
Be the first to leave a comment