

Depois de mais de um ano e meio de negociações cheias de reviravoltas, o italiano Carlo Ancelotti será o novo técnico da seleção brasileira. O anúncio, realizado na última segunda-feira pela CBF, foi resultado de um longo processo encabeçado por Ednaldo Rodrigues, presidente da entidade e que está na mira da justiça para ser destituído do cargo. Em entrevista ao jornalista Rodrigo Mattos, do UOL, o dirigente confirmou que Carleto irá decidir os convocados para as Eliminatórias de junho e deu mais detalhes sobre o processo.
Ednaldo contou que fechou o acordo com Ancelotti “há uns 20 dias”, quando o Real Madrid liberou o italiano para conversar com a CBF. O dirigente ressaltou que o treinador já havia sinalizado o “sim” à seleção brasileira, mas aguardava a liberação do clube para a saída do técnico antes do Mundial de Clubes, que começa em junho nos EUA. Ele explicou que a data máxima para o início de trabalho na seleção seria em 26 de maio, e precisava da concordância do time espanhol para fechar o acordo.
De acordo com Ednaldo, os valores negociados foram os mesmos das conversas de 2024, quando Fernando Diniz foi demitido do cargo. A CBF já havia, inclusive, feito um contrato com o treinador, mas no final as negociações não avançaram e Dorival Júnior foi o escolhido para a função. Foi só após a saída de Dorival, no final de março deste ano, que o órgão máximo do futebol brasileiro retomou as conversas com Ancelotti, após ter o aval do clube espanhol.
“É praticamente o contrato que tinha lá atrás. Foi um facilitador. Já tínhamos um entendimento, uma sintonia de confiança mútua, né? Confiando nele, e ele confiando em mim na instituição. Por isso foi mais rápido em termos de acerto. Mas tinha um timing do clube, independente de ele ser campeão. Independentemente (do resultado), tinha um interesse muito grande de estar com a seleção”, explicou Ednaldo.
Desde o início das negociações, em 2024, o presidente da CBF ouviu atletas que já haviam trabalhado com o treinador, tanto que já fizeram parte da seleção brasileira ou não. “Dos atletas, não vi ninguém que deixou dúvida. Todos diziam de uma forma: ‘esse é muito bom, mas acho difícil’. As pessoas achavam impossível”, contou Ednaldo. Mesmo assim, ele insistiu por Ancelotti, ressaltando que, depois da experiência com Diniz — que assumiu a seleção em meio ao trabalho com o Fluminense —, “não pretendia fazer isso com nenhum outro treinador do Brasil com seu time já iniciado numa competição”.
Ele explicou que a data máxima para o início do trabalho foi definida pela CBF como 26 de maio, dia da convocação dos jogadores que disputarão as partidas contra Equador e Paraguai pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026, em 5 e 10 de junho. Ednaldo rebateu as críticas sobre a demora para encontrar um novo treinador, afirmando: “Não pude fazer qualquer movimento com qualquer treinador enquanto o Dorival estivesse conosco. Não faço tratativa com antecedência com pessoa no cargo. Tive de respeitar”.
Na data, Ancelotti já estará no Brasil e será ele quem irá anunciar a lista dos 23 atletas, com base no trabalho desenvolvido pelo departamento de seleções da CBF e a observação de jogadores nos estádios (Juan e Rodrigo Caetano estão na Europa nesta semana) e por meio de vídeos de jogos. Nos dias 22 e 23 de maio, quinta e sexta, ele terá reuniões com a comissão técnica brasileira e a partir daí escolherá os jogadores para os duelos.
Na seleção brasileira, Ancelotti virá acompanhado de quatro profissionais de sua comissão técnica: assistente, preparador físico, analista de desempenho e treinador para bolas paradas — o número pode aumentar em um integrante, e o italiano também está disposto a trabalhar com a estrutura fornecida pela CBF. Ednaldo garante que “os que ele vai trazer vão somar com os que temos. Não vai sair ninguém”.
Sobre os rumores das cifras milionárias de salário e regalias como uma casa em um condomínio de luxo no Rio de Janeiro como partes do contrato de Ancelotti, Ednaldo categorizou como “chutes” equivocados. A única informação correta, segundo ele, é de que o treinador irá morar no Rio de Janeiro e que quer aproveitar a estrutura da Granja Comary, na Região Serrana do estado. “Disse que tem muitos atletas que passam despercebidos, não só na Série A, que quer conhecer. Quer conhecer jogos de outras séries. Porque pode ter atletas que possam ser importantes”, acrescentou o dirigente.
As conversas com Ancelotti foram suficientes para que Ednaldo traçasse um perfil do treinador. “A percepção que tenho é de uma pessoa acessível, mas dentro do momento dele. Às vezes é muito contido, discreto. Quando está no trabalho, não falar do outro. Não antecipar situações que pode estar avaliando. Mas uma pessoa alegre, brincalhona. Conhece futebol e todo mundo. E é muito entusiasmado pelo futebol brasileiro”. Além disso, ele elogiou jogadores como Zico e Falcão e treinadores como Parreira e Felipão.
Em um momento em que a seleção brasileira enfrenta grande período de turbulência, Ancelotti é valorizado por sua capacidade de gerir equipes sob grande pressão. Ednaldo explica que “foi um fator decisivo, tanto lá atrás quanto agora. Agora mais ainda. Ele ser a pessoa experiente com questões de pressão. Quem treina os grandes clubes e conquista os maiores títulos a pressão é constante. Mesmo sempre vencendo, tem pressão. E ele é uma pessoa que sabe lidar de uma forma muito tranquila essas questões”.
Segundo o presidente da CBF, o anúncio foi feito na segunda-feira para antecipar um vazamento de informações. Ele reforçou que o contrato é válido até a Copa do Mundo de 2026, mas que se estende até o final do mês de julho, já que a final do torneio está marcada para o dia 19. Sobre uma possível extensão de vínculo, ele explicou que a opção está no contrato, mas irá depender das circunstâncias até lá — segundo Ednaldo, Ancelotti é “a pessoa que sobe o degrau de cada vez”.
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