
A água baixou. Mas as consequências ainda se fazem presentes. Há exato um ano, o Brasileirão parou pelo Rio Grande do Sul, devastado pelas enchentes. Mas só por duas semanas. Nos 12 meses seguintes, enquanto o restante do país voltou à normalidade, a dupla Gre-Nal (a mais impactada pela tragédia) precisou superar obstáculos para se reerguer. Hoje, os dois clubes ainda olham para trás para avaliar prejuízos. Cada um dentro de sua realidade, já que as caminhadas foram distintas.
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Quando a água do Rio Guaíba subiu, a situação do Internacional parecia mais preocupante. Os dois clubes tiveram seus estádios e centros de treinamento tomados pela água. Mas, como a Arena é gerida por empresa privada, a reforma não ficou sob responsabilidade do tricolor — diferentemente do colorado, um dos administradores do Beira-Rio. Além disso, parte importante do CT gremista (como academia, vestiários e departamento médico) escapou do alagamento. Uma sorte com a qual o rival não pôde contar.
Contudo, esse cenário se inverteu nos meses seguintes. Por diferença nas regiões em que cada um foi construído, a água baixou mais rápido no Beira-Rio (após 11 dias) do que na Arena (23 dias). Além disso, com a boa performance do Inter no Brasileiro, o clube teve mais facilidade para se recuperar financeiramente.
Nas contas dos colorados, o prejuízo foi de R$ 86,2 milhões. Desse total, R$ 28,2 milhões referem-se a perda patrimonial, gastos extras com jogos fora de Porto Alegre e queda na arrecadação com sócios. O restante é uma estimativa de receita que deixou de entrar: R$ 25 milhões em crescimento não concretizado do quadro social e R$ 33 milhões de premiações que escorreram pelas mãos com a eliminação precoce nas Copas.
Os colorados foram ressarcidos em R$ 18,9 milhões pela seguradora do Beira-Rio e pelo auxílio da CBF. Além disso, recuperou o Beira-Rio em 100% , assim como as demais instalações.
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O time voltou a jogar no Beira-Rio pouco mais de dois meses depois. Foi fundamental para isso o fato da grama de verão (por baixo da de inverno, que havia sido recém-plantada) ter sobrevivido. Mas o trabalho mais complexo se deu ainda mais abaixo do solo.
— Foi na parte de tecnologia da informação e cabeamento no subterrâneo do estádio. Foi tudo perdido — recorda o vice-presidente Victor Grunberg, destacando ainda a recuperação do CT profissional, que ficou alagado por todo o mês de maio e só ficou pronto em agosto.
Embora tenha caído cedo nas Copas, Inter engatou sequência de 16 jogos invicto e terminou em quinto no Brasileiro. Classificou-se à Libertadores e empolgou a torcida, que voltou a se associar. No fim de abril, bateu o recorde de 150 mil sócios.
No Grêmio, que também viu o número de sócios despencar, a retomada é mais tímida. Dos 120 mil antes da enchente, registra hoje cerca de 102 mil. Ilustra como tem sido a própria recuperação do clube, com mais dificuldades.
O prejuízo com danos patrimoniais foi bem menor: R$ 12 milhões, entre perdas e gastos extras com logística — dos quais R$ 7 milhões foram repostos pela CBF. O impacto maior foi o longo afastamento da Arena. Foram 14 jogos como mandante fora de Porto Alegre, o que obrigou atletas e funcionários a passarem mais tempo longe de casa e impactou o desempenho esportivo. Além de cair cedo nas Copas, o Grêmio terminou em um modesto 14º lugar no Brasileiro.
— Fomos muito bem recebidos no Corinthians (que emprestou seu CT) e no Coritiba (o Grêmio mandou alguns jogos no Couto Pereira). Mas não é o mesmo que jogar na Arena. Talvez isso tenha pesado numa ou noutra competição. Sem desmerecer nossos adversários, mas deixamos de ter alguma vantagem que poderia nos fazer ir mais longe — reflete o presidente gremista Alberto Guerra, que ainda inclui o aspecto emocional. — É difícil dizer “vamos ganhar” sabendo que famílias conhecidas tinham pessoas desaparecidas ou perderam tudo.
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A Arena só ficou à disposição do time quatro meses após o início das enchentes. Com capacidade total, apenas seis meses depois.
— A gestora é uma empresa de engenharia, e isso eles fazem bem. Mas o processo foi lento. Faltou um pouco de percepção, de pensar no viés esportivo para o clube e no alento que isso daria aos sócios — reclamou Guerra.
Ao contrário do Beira-Rio, o estádio gremista sofreu perda total do gramado. Segundo Mauro Araújo, presidente da Arena Porto-Alegrense (empresa gestora), o trabalho de recuperação envolveu mais de 2.500 atividades num contexto de fornecimento de materiais e equipamento totalmente comprometidos.
— O gramado estava pronto 65 dias depois da troca. Agora, numa inspeção, vimos que ele apresentou fragilidades, porque é um ser vivo. Trabalhamos com todas as técnicas mais modernas, mas entendemos, junto com o clube, que o primeiro jogo seria em 1º de setembro e não 17 de agosto, como inicialmente previsto — defende.
Hoje, restam a instalação de um dos telões e a entrega de um auditório. Elas estão previstas para a pausa do meio do ano.
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