
Na madrugada desta segunda-feira, o San Lorenzo, da Argentina, perdeu um de seus torcedores mais ilustres: Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, que morreu aos 88 anos. Primeiro pontífice latino-americano, ele levou ao Vaticano o futebol como elemento cultural e expressou seu amor pelo esporte em diversas ocasiões.
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Nascido em dezembro de 1936 em Buenos Aires, Francisco assumiu como papa em 2013, um ano antes de o seu time de coração, San Lorenzo, vencer a Libertadores pela primeira vez. A campanha, inclusive, foi vista como um milagre do novo pontífice, e não faltaram homenagens do clube. Em 2014, o presidente e jogadores levaram a taça do torneio para Francisco durante visita no Vaticano, que afirmou: “Ser torcedor do San Lorenzo é parte da minha identidade cultural”.
Tanto era que, em 2008, anos depois de deixar a Argentina e parar de frequentar o antigo estádio do Velho Gasômetro, ele adquiriu um importante documento: a carteirinha de sócio de seu clube do coração. Sob o número 88.235, Jorge Mario Bergolio ficou marcado, de forma oficial, na história do clube de Buenos Aires. A ligação com o clube pode ser vista nas pinturas de Francisco nos muros do bairro de Flores, onde atualmente é a sede do San Lorenzo, e local onde o papa nasceu e foi criado.
Em sua biografia, Francisco deu mais detalhes sobre sua relação com o futebol, que começou na infância em brincadeiras de rua. Ele conta que, devido a pouca habilidade com os pés, frequentemente era colocado no gol, na esperança de não prejudicar seus companheiros. Mas, desde pequeno, o pontífice via o esporte com um objetivo maior: levar a alegria para as pessoas.
No livro, o papa relembrou a demolição do Gasômetro, em 1979 por ordens da ditadura militar da Argentina, e lamentou o episódio. Em 2014, ele foi presenteado pelo então presidente do San Lorenzo, Patón Bauza, com fragmentos do piso do antigo estádio, assim como do pátio onde o clube foi fundado. Francisco também relembrou o acidente aéreo que vitimou 31 pessoas, 18 delas jogadores do time italiano Torino.


Partidas pela Paz
Durante seu papado, além de dirigentes e atletas do San Lorenzo, Francisco também recebeu outros jogadores no Vaticano. Cinco meses depois que assumiu o cargo máximo da Igreja Católica, as seleções da Argentina e Itália fizeram um amistoso no país europeu para homenageá-lo. Na véspera do duelo, Francisco recebeu Messi e Buffon, capitães das equipes, que levaram um ramo de oliveira de presente. Ele afirmou que os atletas “são muito populares, os torcedores os seguem muito, não só quando estão no campo de jogo, mas também fora dele. É uma responsabilidade social”.
A vitória foi dos sul-americanos, por 2 a 1, e após o encontro, o papa deu um recado àqueles que trabalhavam com ele no Vaticano:
— Vocês viram como os italianos e os argentinos se comportaram… Vocês viram que alguns eram obedientes e seguiam ordens, e outros eram desorganizados e desleixados. Bem, eu sou um deles. Agora você sabe de onde eu venho. Digo isso para aqueles que cuidam de mim, que me repreendam quando saio do protocolo, o que continuarei fazendo.

Desde então, tornou-se frequente ver grandes figurões do futebol mundial em visitas ao pontífice. Em 2014, ele se encontrou com Maradona pela primeira vez. No ano seguinte, foi a vez de Diego Maradona se encontrar com o papa, e ele o presenteou com uma camisa da Argentina com o nome do chefe máximo da Igreja Católica.
Ao longo dos anos, Maradona fez outras visitas ao papa, e na ocasião da morte do ex-jogador em 2020, a central de informações do Vaticano informou que Francisco “lembra com afeto das ocasiões de encontro nestes anos, e pensa nele em suas orações”. Foi naquele ano que o pontífice passou a promover as Partidas pela Paz, um amistoso com fins beneficentes envolvendo grandes estrelas do futebol mundial. Em 2022, Ronaldinho Gaúcho foi um dos representantes escolhidos para a partida.
Messi ou Maradona?
Em 2023, quando Messi venceu a Bola de Ouro pela oitava vez, o papa Francisco foi perguntado por uma TV italiana se o capitão da seleção tricampeã Mundial em 2022 era melhor que Maradona. A resposta do pontífice pegou todos de surpresa quando ele incluiu na conta também Pelé, que levou vantagem sobre os conterrâneos de Francisco.
— Acrescento um terceiro: Pelé. São os três que eu vi (jogar). Maradona, como jogador, é ótimo, mas como homem falhou. O coitado escapou da corte daqueles que o bajularam e não o ajudaram. Ele veio me ver no meu primeiro ano de pontificado, e depois morreu no final do ano. O Messi é muito correto, um cavalheiro. Mas para mim, desses três, o grande cavalheiro é o Pelé, de coração… Falei com o Pelé, em um avião, quando eu estava em Buenos Aires, um homem de uma humanidade tão grande. Os três são ótimos, cada um com sua especialidade. Messi é bom neste momento, Pelé era bom — concluiu Francisco.


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