
:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/z/3/cXGUiTSJ6ewwObOlesLA/111252545-topshot-paris-saint-germains-players-celebrate-with-the-trophy-after-winning-the-uefa-c.jpg)
Jornalistas torcem. Não exatamente do jeito que muitos torcedores pensam — especialmente no momento em que vocês da imprensa dizem o que o coração da torcida não quer ouvir. “Não fala mal do meu time, hein?” é uma brincadeira que ouço muito, e normalmente respondo com outra pergunta: “Seu time está me ajudando a falar bem dele?” Enquanto não se passa para a ofensa ou, pior ainda, a agressão, é tudo parte do jogo. Escolhemos um lado da paixão pelo esporte que exige a busca pela neutralidade (que é sempre isso, uma busca). Mas, no futebol, mais do que em outras modalidades, o amor passa — ou até começa — pela afiliação a um clube. E aí, a não ser que você seja América, como meu amigo Alex Escobar, ser neutro será sempre um desafio. Mesmo que seu time não esteja em campo, como ontem, na final da Liga dos Campeões da Europa.
Uma vez perguntei a meu pai para quem ele estava torcendo enquanto assistia a um jogo entre dois rivais do time dele, e também ouvi uma pergunta como resposta: “Tem como os dois perderem?”. Essa neutralidade nascida da passionalidade de um torcedor me encantou e sempre repito essa história, mas ela não é útil para jornalistas. A gente não pode escolher entre as cores e os escudos que estão em campo, mas acaba torcendo por alguma coisa. Outro amigo meu, Carlos Eduardo Mansur, passou a torcer por uma ideia de jogo. Ele gosta de ver o que Pep Guardiola trouxe para o futebol moderno — mesmo que executado por uma equipe que não tenha o revolucionário catalão no comando.
Na final de ontem, eu torci por uma história. Porque o que fica de um jogo, especialmente de uma final, é o que a gente tem para contar. Entre o Paris Saint-Germain e a Internazionale de Milão, não tive dúvida. A Inter é um clube vencedor em busca de reviver seus melhores dias de campeão da Europa e do mundo. Esteve na decisão da Champions há duas temporadas, quando o futebol italiano há muito já não era dominante, e esbarrou no Manchester City de Guardiola — que nem precisou jogar como o Mansur gosta para levar a melhor. Já o PSG tentava o primeiro título europeu de sua história sem Messi, Neymar e Mbappé, os galáticos contratados como passaporte para a grandeza continental e global.
Já seria uma grande história para contar se o título tivesse sido conquistado com o sofrimento dos pênaltis, ou com aquele 1 a 0 com gol no início, talvez o jeito mais sem graça de ganhar uma final. Mas os roteiristas do futebol estavam inspirados em Munique. Não só pela goleada, também pelos autores dos gols: Hakimi, da seleção marroquina que surpreendeu o mundo na última Copa; Kvaratskhelia, um georgiano que nunca levou seu país a um Mundial e despontou para o estrelato justamente no futebol italiano da rival Inter; e especialmente Doué, que aos 19 anos marcou duas vezes, fez jogadas de efeito e comemorou com aquela mistura de alegria e arrogância dos jovens talentos.
Já seria mais do que suficiente. Mas Luis Enrique, um ex-jogador vitorioso que enfrentou um terrível drama pessoal e passou por momentos de desconfiança em sua carreira de treinador, ainda colocaria a cereja no bolo, lançando em campo mais um menino, Mayulu, para selar o maior placar de uma final de Liga dos Campeões da Europa. Nem vou implicar com quem chama o que aconteceu ontem de História. Já me bastam as histórias que o campo contou.
This news was originally published on this post .
Be the first to leave a comment