
Claro que a Copa do Mundo, entre uma vitória brasileira e outra, tem tornado tal exercício tentador. Mas comparar atuações de times diferentes, em jogos diferentes e contra rivais diferentes é a receita do equívoco. Porque, em favor da vitória do Botafogo na noite de ontem, será possível argumentar que o PSG acaba de conquistar a Europa, ou que o Chelsea, hoje, talvez não seja um dos dez melhores times da Europa. Mas há algo que dá aos 3 a 1 do Flamengo traços inéditos na era pós-globalização do futebol: a autoridade, e talvez um certo ar de naturalidade, com que se construiu o resultado.
Então, não se trata de dizer qual brasileiro, ou sul-americano, jogou melhor contra um Europeu nos últimos, digamos, 20 anos. Porque vamos lidar com rivais mais dominantes do que este Chelsea, times mais prontos, quase intratáveis, que impuseram esforços de resistência como o Botafogo executara horas antes. Ou, percorrendo a história, vamos encontrar jogos em que os europeus se apresentaram fisicamente em melhor estado. O fato é que, ponderações à parte, nunca tínhamos assistido, desde que o futebol concentrou riqueza e fama nas principais ligas europeias, a um jogo com o enredo deste Flamengo 3 a 1.
Havia pouco tempo de jogo quando o erro de Wesley ofereceu a Pedro Neto o gol que abriu o marcador. Mas, antes e depois deste lance, já pairava a sensação de que o Flamengo era o melhor time. E a forma como nascera o gol dos ingleses era simbólica: um erro técnico determinava o placar. O time de Filipe Luís controlava 70 metros de campo, mas era impreciso no último toque antes de finalizar.
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Plano por plano, funcionava o de Filipe Luís. O Chelsea só escapou uma vez da pressão ofensiva do Flamengo que, quando teve a posse, parecia muito trabalhado para lidar com os encaixes individuais do rival. Sempre que um defensor tinha a bola sob pressão, surgia um meia ou atacante rubro-negro vindo em apoio, arrastando consigo um defensor rival. A ideia era atrair e fazer combinações curtas, até que um passe em profundidade buscasse as costas da linha de zaga inglesa. Mas os erros nestes últimos passes sabotavam a ideia.
Mas havia algo diferente no jogo. Nestes embates entre sul-americanos e europeus das últimas décadas, o primeiro gol sofrido parecia uma sentença, o fim da esperança. Mas desta vez, ninguém olhava para o que acontecia na Filadélfia e não via uma partida viva, dominada taticamente pelo Flamengo.
Filipe Luís interveio com a entrada de Bruno Henrique por Arrascaeta, dobrando a aposta na pressão e na capacidade de manipular a marcação adversária. Foi assim que Wesley atraiu Cucurella, Gérson atacou as costas do lateral espanhol e Luiz Araujo, deslocado para o centro do ataque, atraiu o lateral Malo Gusto. A bola ficou para Plata quase marcar. Do lance, surgiu o escanteio que originou o empate. A esta altura, a virada parecia questão de tempo, dada a autoridade rubro-negra no jogo. E, em outro escanteio, Danilo decretou o 2 a 1.
A expulsão de Jackson e o gol de Wallace Yan para o 3 a 1 foram apenas consequência de um domínio que durou um jogo inteiro. É fato que o Chelsea de hoje não está na mais alta elite do jogo, mas também é verdade que, na era moderna do jogo global, a vitória do Flamengo teve características únicas.
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