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Zico, Hulk, Leonardo, Emerson Sheik e Dunga não são apenas nomes de uma lista de lendas do futebol brasileiro, como ídolos que passaram pelo futebol japonês e pavimentaram a conexão entre os torcedores nipônicos e atletas do Brasil. Dos 53 jogadores na liga, O ex-Flamengo Matheus Sávio carrega com maior destaque a bandeira verde e amarela atualmente. Ele foi o melhor meia na J.League, em 2024, com nove gols e oito assistências em 42 jogos pelo Kashiwa Reysol, mas se transferiu no início do ano para jogar a Copa do Mundo de Clubes pelo Urawa Reds Diamonds. A equipe terá a difícil missão de vencer a Inter de Milão-ITA para continuar vivo na fase de grupos, após derrota na estreia para o River Plate-ARG. Se depender da torcida, que chamou a atenção ao “inundar” de vermelho o Lumen Field, em Seattle, para a partida de estreia, um milagre pode ser operado.
– O Urawa é uma grande equipe e tem a maior torcida do país – diz Sávio.
Zico é um dos primeiros nomes que ficam no imaginário quando se pensa no futebol japonês pela ótica brasileira. Não é para menos. O galinho é reconhecido como o “Deus” do futebol nipônico, devido à qualidade técnica que mostrou dentro de campo – entre os anos 1991 e 1994 – pelo Sumitomo e Kashima Antlers e à forma como ajudou a estruturar a liga, ao longo dos quatro anos de treinador da seleção, entre 2002 e 2006.
O holofote que o ídolo rubro-negro deu ao torneio, fez outros grandes nomes desembarcarem no país, como os campeões do tetra Leonardo e Dunga. Isso aumentou o interesse local pela modalidade. Mas a conexão da torcida japonesa com brasileiros aconteceu ainda no primórdio da modalidade no país.
– O Japão investiu em várias modalidades esportivas para não “fazer feio” como sede, na Olimpíada de 1964. Entre os esportes, eles apostaram no futebol. Os japoneses conseguiram fazer uma boa competição, passaram da primeira fase e venceram a Argentina. O que motivou o país a investir no jogo. Então foi criada uma liga amadora de futebol nacional, feita com times de empresas. Uma delas, a Yanmar, tinha uma filial no Brasil e através dela contrataram o jogador nipo-brasileiro Nelson Yoshimura, filho de imigrantes japoneses e que se tornou o primeiro estrangeiro e brasileiro a jogar no país – diz o jornalista e escritor sobre futebol japonês, Tiago Bontempo.
O sucesso de Nelson, que chegou a se naturalizar e jogar pela seleção japonesa, fez outros times seguirem o mesmo movimento. No início, os clubes contratavam descendentes de japoneses, mas com o tempo, passaram a investir em atletas sem ascendência asiática. Um dos maiores destaques foi o atacante Ruy Ramos, hoje com 68 anos, até o “boom” com Zico, na liga já profissionalizada.
A fórmula fez muito sucesso esportivo. Hoje os brasileiros representam mais de 55% dos estrangeiros na liga e já se destacaram em diferentes temporadas. O centroavante ex-Fluminense Washington chegou ao país em 2005. Atuou primeiramente pelo Tokyo Verdy e na temporada seguinte foi para o mesmo Urawa de Sávio. Ao todo, “Coração Valente” jogou 85 jogos com 64 gols e cinco assistências, ganhando uma Supercopa japonesa pelo Verdy e uma liga nacional e intercontinental pelo Urawa.
– Eu fui o artilheiro do ano anterior do Brasileirão, pelo Athlético Paranaense. Chegaram a me perguntar se eu tinha certeza de sair para o país, mas foi a melhor escolha da carreira jogar no Japão. Só tive alegrias lá – disse Washington. E continuou: – Eles gostam muito de brasileiros, nos respeitam demais lá. Quando eu estava na rua, sempre notavam, mas não me paravam. Pediam disfarçadamente para tirar fotos.
A diferença cultural entre a forma de torcer no Brasil e no Japão causou um estranhamento ao jogador.
– No primeiro ano, mesmo nos jogos que a gente perdia, dávamos voltas no campo agradecendo a torcida e eles batiam palmas mesmo assim. Eu pensava: “não vão protestar?”. Mesmo a torcida do Urawa, que era um pouco mais quente, ainda assim, evitavam nos criticar – diz o atacante.
Mas com o tempo, os times tiveram que diminuir os investimentos, parando de contratar grandes jogadores, como nos anos 90, e passando a apostar mais em jogadores promissores. Nessa leva, a então promessa era o paraibano Hulk, ainda com 18 anos, que chegou ao Kawasaki Frontale, em 2004. No Japão, o jogador atuou por três clubes – ainda Tokyo Verdy e Consadole Sapporo – de 2005 a 2008, antes de se transferir ao Porto FC. Foram 111 jogos com 74 gols e quatro assistências.
– Hoje é raro você ver jogadores de primeira prateleira lá, mas os brasileiros sempre são muito exaltados pelos torcedores japoneses. O Leandro Damião, há seis anos, deixou o campeonato brasileiro em baixa, mas ao chegar no Kawasaki Frontale ganhou duas superligas, ganhou duas supercopas e a Copa do Imperador, se tornando um dos maiores jogadores do time. Ele chegou a ter o rosto estampado em bandeirão da torcida – diz o jornalista Matheus Paes.
Grêmio no Japão
Damião passou cinco anos também no Kawasaki Frontale, acumulando 71 gols e 24 assistências em 178 jogos. No time, inclusive, há uma forte inspiração nas cores de um antigo rival do brasileiro: o Grêmio. Isso porque, em 1997, quando a equipe foi profissionalizada, fecharam um acordo de cooperação com o tricolor gaúcho e passaram não apenas a usar as cores e escudo semelhante ao clube, como puderam fazer o intercâmbio de diversos jogadores brasileiros.
Além da influência gaúcha, os são paulinos também encantaram o país ao apresentar grande futebol no tricampeonato mundial de 2005 contra o Liverpool-ING. Ainda hoje, os torcedores do Kawasaki cantam em português uma versão da música “Vai lá de coração”, eternizada nas arquibancadas do antigo Morumbi e nos estádios de Tóquio pela torcida do São Paulo.
A japonesa Miyazawa Hiromi conta que não acompanhava o esporte, mas passou a se interessar quando viu felicidade do marido ao comemorar o título do Campeonato Paulista em 2021 e, a partir disso, viu o reconhecimento do clube em seu próprio país.
– Eu comecei a pesquisar do São Paulo. Eu passei a gostar muito do time. A forma como torciam, era muito parecida com o meu time de Baisebol – diz. E continua: – com o tempo percebi que o time é muito respeitado aqui no Japão. As pessoas reconhecem o escudo, a camisa, nos param para falar com a gente.
Para o mundial, ela conta que torce apenas para o time japonês.
– Para os times brasileiros eu não torço para nenhum, por questão de rivalidade e respeito ao meu São Paulo. Mas estou com o tricolor japonês, que é o Urawa – diz a japonesa.
Se em março ocorre a temporada das floradas rosas das cerejeiras japonesas, hoje a cor vermelha pode se tornar o destaque do Mundial novamente. Paes admite que a montanha para o Urawa escalar é grande, mas ressalta que em um campeonato recheado de zebras, a equipe pode ter sua chance.
– Na Jleague o Urawa é bem reativo, tem menos posse de bola normalmente, mas tem um contra-ataque muito rápido, embora no jogo com o River Plate não tenha mostrado isso. Claro que a Inter é muito melhor que a equipe japonesa, mas se seguir o seu modelo de jogo, pode ocorrer uma nova surpresa – diz Paes. Mas ressalta: – o Japão tem o objetivo de criar uma liga competitiva para se tornar campeão do mundo até 2050, mas no momento, para o torcedor japonês, o importante é mostrar que está ali no grande cenário, mostrando que também tem futebol e, principalmente, uma torcida forte e apaixonada – diz Paes.
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