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Por trás da movimentação turística e da vibração no mar, existe uma engrenagem complexa e invisível que sustenta o espetáculo. A estrutura montada pela WSL na Praia de Itaúna, para a etapa de Saquarema, que se inicia hoje, é a maior do circuito mundial e começa a ser preparada com até oito meses de antecedência, incluindo as fases de projeto e orçamento. A montagem física é iniciada 45 dias antes da janela do evento, mobilizando até 300 pessoas. Este ano, o pontapé aconteceu no dia 12 de maio.
— Por ser erguida 100% sobre a areia, a arena de Saquarema exige soluções específicas. São utilizadas mais de 100 sapatas de concreto, cada uma pesando duas toneladas, para ancoragem da estrutura — explica Roberto Sivieiro, diretor de Operações da WSL.
A operação não conta com plano de backup para mudança de palanque. O point principal é a própria Praia de Itaúna, e a janela de nove dias permite escolher os melhores momentos do mar para as disputas.
Mesmo com a grandiosidade da estrutura, o evento mantém um compromisso ambiental rigoroso. Não são feitas construções fixas, apenas montagem temporária, com monitoramento ambiental constante.
— Temos equipe de limpeza com vassouras magnéticas para recolher qualquer material metálico da areia, além de mantermos distância da restinga e seguirmos todas as normas da Secretaria Municipal — reforçou.
O sucesso da etapa depende do acolhimento da população. Para Ivan Martinho, presidente da WSL na América do Sul, a relação com a comunidade local é parte essencial da equação:
— Estamos ocupando um espaço que é dos moradores. Por isso, fazemos questão de contratar gente da cidade, movimentar o comércio e desenvolver fornecedores locais. O envolvimento da população é o que torna tudo possível.
A complexidade técnica da operação também se reflete na transmissão ao vivo. Pedro Marques, ex-operador de câmera da WSL, relembra os bastidores de quem está por trás das lentes.
— O maior desafio é lidar com o clima. Sol, vento e, principalmente, a chuva exigem improvisos com barracas, capas e atenção redobrada aos equipamentos. Mas o mais importante é não perder nada: toda onda, mesmo a que parece ruim, pode virar um 10. Eu encarava todas como se fossem decisivas — conta.
Pedro se posicionava cedo na areia, antes da chegada do público, para garantir o espaço ideal de filmagem com a câmera teleobjetiva. Mesmo com um ponto fixo, mantinha-se atento:
— Além de surfe, eu captava cenas que davam outra atmosfera ao vídeo: um pôr do sol, um avião cruzando o céu, uma criança jogando altinha. A responsabilidade era grande, porque minhas imagens tinham um olhar diferente. E esse detalhe faz muita diferença na edição final.
O maior desafio físico, segundo a WSL, continua sendo a própria areia de Itaúna, fina e fofa, o que torna o trabalho exaustivo. Para isso, há um acompanhamento de um técnico de segurança do trabalho, que orienta a equipe sobre hidratação, uso de protetor solar, EPI e pausas obrigatórias.
Via de mão dupla
O impacto do evento não se encerra com o último drop ou com a desmontagem da arena. A passagem da WSL por Saquarema deixa um legado ambiental, com ações de sustentabilidade que vão além do discurso. Lonas da estrutura viram bancos de praça, lixeiras, quilhas de prancha e até abrigos de ônibus, todos doados à cidade.
— A realização da etapa desde 2017 abriu novamente as portas da cidade para o Brasil e o mundo, impulsionando o turismo, atraindo investimentos e colocando o município no mapa dos grandes eventos internacionais. Foi possível criar um calendário turístico consistente, com atividades de janeiro a janeiro, que geram fluxo de visitantes e impactam positivamente a economia local, com a geração de emprego e renda, especialmente nos setores de hotelaria, alimentação, comércio e serviços — diz Lucimar Vidal, prefeita da cidade.
Em 2023, 99% dos resíduos gerados foram reciclados, com apenas 1% classificado como rejeito. Há também neutralização de carbono e rigor no controle de plásticos descartáveis — nenhum é permitido na arena.
— Há um legado social e ambiental importante, com ações de inclusão esportiva para jovens da comunidade, educação ambiental em parceria com escolas e ONGs, e a adoção de práticas sustentáveis, como plantio de mudas e reutilização de materiais. Saquarema se tornou um modelo de integração entre esporte, meio ambiente e desenvolvimento — afirma Lucimar.
Se no calendário a estação é o inverno, em Saquarema o clima é de verão. A chegada da etapa brasileira do Circuito Mundial de Surfe, o Vivo Rio Pro, transforma a cidade em um polo de turismo, entretenimento e negócios. A expectativa para a edição de 2024 se confirmou: foram mais de R$ 159 milhões movimentados, mais de 350 mil visitantes, geração de 1.700 empregos diretos e indiretos e um impacto estimado de R$ 114 milhões no PIB local.
A movimentação não passa despercebida por quem vive e trabalha na cidade. A moradora Natália Gonçalves, doula do Coletivo Baleia, define o período como um sopro de energia:
— Nessa época do ano, a nossa rotina ganha uma alegria especial, um clima de festa. O dia a dia fica superanimado. Saquarema ganha visibilidade e reconhecimento, e traz uma onda de otimismo.
Pousadas cheias
Com o circuito, a economia local se aquece em todos os setores. Ana Clara Gonguet, dona da Pousada Catavento, conta que a taxa de ocupação chega perto dos 100%:
— Sempre que temos o Mundial de Surfe, a nossa expectativa é de lotação. Já estamos acostumados: basta renovar o estoque de limpeza e caprichar no café da manhã. É um alívio saber que o calendário de eventos mantém a cidade viva.
O mesmo se repete no comércio. Mariana Rodrigues Monteiro, proprietária da loja Amar Acessórios, compara a data com o principal feriado comercial do ano:
— O Mundial de Surfe é nosso Natal fora de época. Em dez dias, vendemos o equivalente a um mês inteiro. A preparação começa com antecedência. O mais interessante é que, depois da etapa, a cidade continua pulsando com outros eventos esportivos.
No setor de alimentação, o impacto é imediato. Para Gustavo Rodrigues, chef do restaurante Peixe do Gustavo, o movimento é comparável ao do verão:
— A etapa transforma Saquarema numa alta temporada no meio do inverno. Triplicamos o movimento, contratamos mais gente, e o comércio respira. O melhor é que esse impulso se estende. A cidade deixou de viver apenas da alta temporada.
Para quem vive do transporte, os dias de campeonato também representam oportunidade. Carlos Antonio Penetra, de 26 anos, trabalha como motorista de aplicativo e celebra o aumento nas corridas:
— A WSL traz uma movimentação enorme para a cidade, enche de turistas, o comércio bomba, tem gente nova para todo lado… Dá uma animada geral. Como motorista de app, é uma das melhores épocas do ano. Tem muito mais corrida, tudo fica mais dinâmico. Claro que o trânsito complica, principalmente na Praia de Itaúna e na Vila, mas damos um jeito.
Mas a movimentação também exige reforço nos serviços essenciais. O salva-vidas Vitor Drummond destaca o aumento da responsabilidade no trabalho:
— Nessa época, a atenção tem que ser dobrada. A praia lota com turistas do mundo todo, muitos não conhecem o pico. A carga horária aumenta, o descanso diminui, e o foco tem que ser total.
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