
As primeiras vitórias de Patrícia Amorim como nadadora diante da torcida foram na estreia do Intercolegial, há 43 anos. Aos 13, a aluna competia no time do antigo Colégio Rio de Janeiro, que era conveniado com o Flamengo. Ela, que tinha uma bolsa de estudo integral como atleta, destaca a importância da união entre esporte e educação para a formação destes talentos. Hoje, a diretora de Esporte e Recreação do Sesc RJ trabalha para reforçar isso e conquistar mais vitórias na formação esportiva. Uma delas é a instalação do centro esportivo na unidade híbrida Sesc/Senac ao lado Parque Piedade, onde funcionou a Universidade Gama Filho. Patrícia adianta que quer ver o Intercolegial acontecendo na futura área.
— Sou Inter até debaixo d’água! O Intercolegial é uma competição diferente do calendário esportivo. Naquela época, quando comecei, tinha um charme e uma representatividade que não conseguíamos dentro dos clubes. Quando a escola alcançava o resultado positivo, tínhamos o reconhecimento através das reportagens do GLOBO. Isso era legal principalmente para as meninas. Tem modalidade em que ainda hoje, mesmo em altíssimo rendimento, elas sequer conseguem espaço e visibilidade. Então era muito bacana, tinha esse encanto. Mostrava um pouco do nosso valor conseguindo aparecer no mundo esportivo. Essa faixa dos 13 aos 18 anos é a das categorias de base dos clubes, e não têm uma grande importância, muito menos alguém que cubra, né? Tínhamos oportunidade de nos ver, de conseguir dialogar e mostrar o nosso valor. E era no Inter que se conseguia fazer isso — recorda Patrícia, que depois foi heptacampeã brasileira, pentacampeã e recordista sul-americana e representou o Brasil em Jogos Pan-Americanos e nas Olimpíadas de Seul, em 1988.
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A jovem nadadora Patrícia Amorim se prepara para iniciar uma prova do Intercolegial em fevereiro de 1984 — Foto: Hipólito Pereira
A jovem nadadora Patrícia Amorim se prepara para iniciar uma prova do Intercolegial em fevereiro de 1984 — Foto: Hipólito Pereira
A ex-nadadora recorda das disputas entre as torcidas do Intercolegial, quando já defendia também o Flamengo, clube que presidiu entre 2009 e 2012, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo no país.
— Tinha uma rivalidade entre o Colégio Rio de Janeiro e o Colégio Piedade. São escolas que não existem mais. O Piedade era vinculado à Gama Filho, e o Rio de Janeiro tinha convênio com o Flamengo, que contava com um número grande de nadadoras. Havia o revezamento, e tive a oportunidade. A minha irmã mais velha também competiu, era muito legal. As provas eram de velocidade, provas que normalmente eu não sentia, porque era uma atleta de longa distância. Era tudo muito bacana. Estava no primeiro Intercolegial! Foi uma das melhores lembranças dessa época, primeiro porque eu era tão jovem. Estava no início da minha carreira esportiva, existiam muitas dúvidas antes de me formar uma nadadora, uma atleta de verdade. Era uma época de muito machismo e preconceito; diziam que nadadoras ficam com ombros largos… A lembrança que tenho do Inter é de definição, quando era cercada de dúvidas.
A grande certeza, segundo Patrícia, era que ela tinha um compromisso com a escola:
— Com a estrutura clubística do Flamengo, eu só conhecia competição de clubes, e a disputa escolar trazia uma atmosfera diferente, prazerosa. Eu passava muito tempo treinando, no caso da natação, contando ladrilho, e a outra metade do dia era toda dentro do Colégio Rio de Janeiro. Tinha bolsa de 100%, era uma responsabilidade, um compromisso que a gente assumia. Ao mesmo tempo, tinha uma coisa boa no Inter, em função do público, da atmosfera que envolvia. Os seus amigos da escola, que não sabiam o que você fazia e o sacrifício de um atleta para chegar à competição internacional, tinham a chance de assistir e torcer. E aí vinha uma percepção nova, de qualquer estudante, ao ver o que era ser um atleta. Era importante essa ligação com a escola. Principalmente porque a tendência, quando você se torna um atleta profissional, é não estudar mais, mesmo hoje em dia, com o que eu não concordo.
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Projeto do centro esportivo na unidade híbrida Sesc/Senac ao lado Parque Piedade, na Zona Norte: Patrícia Amorim quer ver o Intercolegial ser realizado na futura área — Foto: Divulgação
Projeto do centro esportivo na unidade híbrida Sesc/Senac ao lado Parque Piedade, na Zona Norte: Patrícia Amorim quer ver o Intercolegial ser realizado na futura área — Foto: Divulgação
A diretora do Sesc diz que a instituição investe para que o esporte seja atrelado à escola e à universidade:
— Tem que ser um movimento como acontece em outros países. A formação de excelência esportiva nas universidades americanas é um modelo de muito sucesso. E aqui a gente faz o contrário, né? Quando atletas começam a brilhar, acabam largando o estudo. Isso é muito ruim. Porque estudei numa escola forte, treinei num clube forte e me formei em uma faculdade federal, na UFRJ, em Educação Física, e devo muito a essa conexão do esporte com a escola. Se não tivesse esse incentivo, talvez não tivesse chegado à universidade federal.
A importância da formação
Patrícia destaca também a importância de eventos como o Intercolegial para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
— É fundamental, porque esse jovem que está na dúvida, não sabe se vai continuar no esporte, se vai estudar, está pensando em fazer uma opção, vai entender que não tem que largar nada. Uma coisa pode ser alinhada à outra. Principalmente se ele tem um espaço para divulgar aquilo que faz, a motivação pode ser de continuar, de se dedicar a isso. E quem sabe ele pode se profissionalizar. Hoje, o esporte é uma profissão como outra qualquer. Só que, durante a fase de formação desse jovem atleta, ele não tem espaço para que as pessoas conheçam os resultados. O Intercolegial traz isso, dá luz a esses jovens. Daí a importância dessas escolas, desses professores abnegados, dos times onde estão sendo formados, das amizades que continuam porque começaram nesses times escolares, e isso não tem preço. O Intercolegial é uma referência. E deve ser referência para todo o Brasil — afirma ela.
A dirigente frisa ainda que o mais importante é o jovem ter uma boa formação e que essa ideia guia os projetos esportivos do Sesc:
— Aqui não abrimos mão disso. O resultado competitivo, se ele vier, é muito bem-vindo. Mas queremos muito mais do que isso, queremos resultados fora da quadra também, e queremos excelentes profissionais. É importante passar para outras gerações de atletas, que estão em transição de carreira, o que foi positivo e o que não deve ser repetido. Às vezes, a aposentadoria do atleta vem muito cedo, com 30, 40 e poucos anos. Aí ele vai entrar no mercado de trabalho muitas vezes sem qualquer experiência, sem estudo. Então damos essa qualificação. Por isso temos as escolas e a parceria com a faculdade, de forma que a vida desse atleta, independentemente do tempo que ele passe na carreira esportiva, possa se prolongar, caso ele queira, ou siga dentro de outra atividade.
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