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Você está no trânsito, no coletivo, no metrô, na rua… e vê o sujeito olhando pra baixo e rindo sozinho. Em outras épocas… viria o sussurro:
— Olha o maluco…
Hoje… espichamos o olho. Vivemos a era das cápsulas de conteúdo e dos comprimidos de entretenimento. Vai uma dose de graça? Um punhado de angústia? Uma ampola de indignação? Uma injeção de fé? Assim treinamos nossas mentes nas artes da anestesia — dez segundos de dopamina de cada vez.
Quem gosta de futebol vive sendo soterrado. É Vampeta pra cá, Renato Gaúcho pra lá, Evaristo pra um lado, Romário pro outro. O advento do vídeo recortado produz folclore futebolístico o tempo todo. Andy Warhol foi recauchutado pela realidade. Hoje ele talvez dissesse… no presente seremos todos célebres por 15 segundos. O melancismo encefálico venceu — e por goleada. Aparecer se tornou um ativo.
— O que você faz?
— Eu crio conteúdo.
— Sou um Creator.
Deus, se entrevistado, poderia dizer a mesma coisa — e ainda alegar que tinha copyright sobre todas as coisas. Mas paremos por um instante para pensar nos significados. O que é criar conteúdo? É dançar na frente da câmera? É oferecer pílulas de sabedoria? É ensinar como se ganha dinheiro? É falar sobre a vida e suas implicações? É qualquer coisa?
O ecossistema esportivo tem creators de variada monta. Os dubladores prestam o serviço de traduzir o que se fala (e xinga) em campo. Ex-jogadores contam que faziam tudo aquilo que juravam não fazer. Jornalistas viram notícia.
Nos idos de 2006, escrevi, ao lado do Lédio Carmona, hoje comentarista superstar do Sportv, um almanaque sobre futebol. No pé de cada página do livro, escolhemos uma frase marcante ou folclórica. Outro dia, relendo o volume… me lembrei de algumas que ganharam vida própria — e pularam de era em era — e até de autor em autor.
— E aí Nunes, como foi o gol?
— Eu fiz que fui mas não fui e acabei fondo. A bola iu iu iu… e entrou.
Nunes, centroavante que brilhou no Flamengo, sempre negou ter dado essa entrevista. Mas, no folclore… a verdade importa menos, a versão é melhor que o fato. O baiano Baiaco teria sido o autor original de uma outra… atribuída a diversos autores:
— Comigo ou sem migo, o Bahia vai ganhar.
Jardel, artilheiro no Vasco e ídolo do Grêmio, chegou a processar uma revista que pôs na conta dele pérolas como:
— Quando o jogo tá a mil, minha naftalina sobe!
— Clássico é clássico e vice—versa.
Qual seria o impacto dessas frases — se gravadas — em nosso mundo recortado? Cada gênio humilde seria um influenciador? Evaristo teria um podcast? Dadá Maravilha, que parava no ar como beija-flor pra cabecear, ofereceria sua sabedoria como coach?
— Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Quem sabe? Nessa era dos fragmentos, encerremos com um folclórico absoluto:
Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians. Se fosse vivo… ele não sairia da sua telinha:
— O difícil, como se sabe, não é fácil.
— Depois da tempestade vem a ambulância.
— Jogador tem que ser igual ao pato — que é um bicho aquático e gramático.
E sua frase mais célebre — que talvez não seja dele — e assim como algumas pílulas de Dadá… ensina muito sobre futebol com distraída simplicidade:
— O jogo só acaba quando termina.
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