
Leila Pereira, em coletiva de imprensa (Cesar Greco/Palmeiras/by Canon)
O ambiente entre os clubes da Libra, bloco que reúne algumas das principais forças do futebol brasileiro, ganhou um novo capítulo de tensão nesta semana. O Palmeiras anunciou oficialmente que vai acionar o Flamengo na Justiça em razão do bloqueio de uma das parcelas do contrato de transmissão do Brasileirão.
A disputa gira em torno de uma liminar obtida pelo clube carioca junto ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A decisão determina o bloqueio de R$ 77 milhões — quantia correspondente a parte dos repasses ligados à medição de audiência do campeonato, conforme estipulado no acordo firmado entre a Libra e a Rede Globo.
Segundo a presidente do Verdão, Leila Pereira, a atitude rubro-negra ultrapassa os limites da divergência política e configura uma tentativa de minar financeiramente os demais associados da liga.
– Se a atual gestão do Flamengo acha que, por meio desta ação na Justiça do Rio, conseguirá mudar o acordo assinado pelo presidente (Rodolfo) Landim, pode tirar o cavalinho da chuva. O Palmeiras não fará qualquer concessão nem reabrirá um assunto que já foi discutido exaustivamente e está encerrado – afirmou Leila, em entrevista ao ge.
A mandatária ainda completou:
– Nós vamos, sim, buscar na Justiça uma indenização pelo prejuízo que a conduta individualista e predatória do Flamengo está causando ao Palmeiras e aos demais clubes da Libra. Os nossos advogados já estão estudando o caso. Não aceitamos a pressão que o Flamengo está fazendo.
Como surgiu o impasse
O contrato da Libra com a Globo foi assinado em 2024, com validade até 2029. O acordo prevê critérios de distribuição que levam em conta diferentes fatores, entre eles desempenho esportivo, histórico e, principalmente, audiência.
Na prática, quanto maior o público que acompanha as partidas de determinado clube, maior tende a ser a fatia recebida. O Flamengo, reconhecidamente o time de maior torcida do país, entende que a divisão dos valores referentes à audiência não reflete de maneira justa o peso da sua marca.
Rodolfo Landim, presidente à época da assinatura, aceitou as condições propostas pela liga. No entanto, seu sucessor, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, sempre foi crítico do modelo. Ainda durante a eleição presidencial, em 2024, ele prometeu rever os termos, alegando que o clube havia sido prejudicado.
Agora, já no cargo, Bap decidiu endurecer a postura. Foi sob sua liderança que o Flamengo ingressou com a ação judicial para suspender parte dos repasses.
Reação dura do Palmeiras
O Palmeiras, um dos clubes que lideraram a criação da Libra, enxerga a medida como uma ameaça direta à estabilidade da liga. De acordo com nota oficial, a estratégia flamenguista tem caráter “torpe e predatório”, com o objetivo de “asfixiar financeiramente” os demais integrantes para forçar renegociações em termos mais vantajosos para si.
Curiosamente, mesmo sendo um dos possíveis beneficiados por ajustes na distribuição — já que também possui alta presença de público —, o Verdão insiste que o crescimento coletivo deve estar acima das ambições individuais.
“O Palmeiras defende um modelo que fortaleça a todos os clubes e, consequentemente, torne o futebol brasileiro mais competitivo e atraente. Aceitar esse tipo de pressão individual seria um retrocesso enorme”, destacou a diretoria alviverde em comunicado.
Clima de divisão na Libra
A decisão do Flamengo não repercutiu apenas em São Paulo. Isso porque outros integrantes da Libra também repudiaram a iniciativa, reforçando que as discussões já haviam ocorrido em reuniões internas ao longo dos últimos meses.
Em setembro, a maioria dos clubes votou contra a proposta do Flamengo de rever os critérios de audiência, consolidando o atual formato. A entidade agora acusa o Rubro-Negro de desrespeitar o processo democrático e de agir de forma unilateral.
O temor é que o litígio judicial atrapalhe não apenas os pagamentos, mas também a imagem pública da liga. Para dirigentes de outros times, a disputa em meio à primeira fase de vigência do contrato pode afastar patrocinadores e fragilizar a credibilidade de um projeto que nasceu justamente para dar mais autonomia e força coletiva às agremiações.
Do lado rubro-negro, a narrativa é outra. A nova gestão entende que o clube foi vítima de um acordo desequilibrado e que tem o direito de buscar reparação judicial. O Flamengo soltou nota se defendendo nesta semana.
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