Pela primeira vez em sua história, o Brasil terá um técnico estrangeiro no comando da seleção em uma Copa do Mundo. A chegada de Carlo Ancelotti à CBF, com o objetivo de conquistar o hexa em 2026, marca uma virada histórica: o país que por décadas liderou a exportação de técnicos para seleções estrangeiras agora se junta ao clube daqueles que vão buscar fora o comandante de sua equipe.
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A decisão rompe com uma tradição que só sobreviverá em poucas seleções. Entre as campeãs mundiais, além do Brasil, apenas Alemanha e Argentina jamais entregaram o banco da seleção a um técnico estrangeiro em Copas. A partir de 2026, esse seleto grupo terá dois integrantes.
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Exportador nato
Até 2018, na Copa da Rússia, nenhum país havia fornecido tantos treinadores para seleções de fora quanto o Brasil. Foram 14 trabalhos de 11 técnicos diferentes, desde Otto Glória, por Portugal em 1966, até Carlos Alberto Parreira, que dirigiu quatro seleções distintas ao longo de sua carreira, a última delas a África do Sul em 2010. Desde então, porém, o cenário mudou. O Brasil passou as três últimas edições sem exportar técnicos, e foi ultrapassado pela Argentina, que soma agora 12 trabalhos internacionais.
O Brasil, portanto, troca de lado. E se junta a uma prática que, embora antiga — técnicos dirigem seleções de outros países em todas as Copas desde 1930 —, nem sempre foi majoritária. Já são 131 trabalhos diferentes de 101 profissionais, como o sérvio Bora Milutinovic, que esteve em cinco Copas por cinco países distintos. Nunca pelo seu país, nem mesmo nos tempos da Iugoslávia.
A presença de estrangeiros no banco oscilou ao longo das décadas. A tendência caiu a quase zero nos anos 1970, com apenas um “gringo” em cada uma das edições de 1974 e 1978. Mas voltou a crescer nos anos 2000: em 2006, na Copa da Alemanha, chegou-se ao recorde de 15 técnicos estrangeiros entre os 32 participantes. Desde 2014, no entanto, o movimento voltou a enfraquecer. No Catar, em 2022, foram apenas oito — quase a metade do recorde de 16 anos antes.
Brasil e Inglaterra
O italiano Ancelotti, no Brasil, e o francês Thomas Tuchel, na Inglaterra, devem ser exceções históricas entre as seleções que chegam a uma Copa ostentando já terem vencido uma edição no passado. A Itália, por exemplo, confiou ao húngaro Lajos Czeizler sua equipe na Copa de 1954, mas ele já fazia um bom trabalho no futebol local, em clubes como Milan e Padova. Já a Inglaterra recorreu a nomes de peso para tentar reverter o jejum de títulos desde 1966: Sven-Göran Eriksson, da Suécia, foi o comandante em 2002 e 2006; Fabio Capello, conterrâneo de Ancelotti, em 2010. Nenhum deles foi além das quartas de final.
A opção por estrangeiros é mais comum em seleções médias e pequenas. Camarões, por exemplo, disputou sete Copas sob comando estrangeiro — um recorde. México e Suíça somam seis cada. Também há uma tendência nos países-sede de cada Mundial: em seis das últimas dez Copas, os anfitriões apostaram em nomes de fora. Foi o caso de Japão (Philippe Troussier) e Coreia do Sul (Guus Hiddink) em 2002. Para 2026, a tendência se repete: os EUA devem ter Mauricio Pochettino, argentino, e o Canadá, Jesse Marsch, norte-americano.
Desempenho fraco
O histórico, porém, não é animador. Em 22 Copas, nenhum técnico estrangeiro venceu o torneio. A estatística é dura: 63% dos trabalhos pararam na fase de grupos, e 93% sequer chegaram à semifinal. Apenas dois chegaram à final: o inglês George Raynor, com a Suécia em 1958 (derrotado pelo Brasil), e o austríaco Ernst Happel, com a Holanda em 1978 (derrotado pela Argentina). Entre os raros semifinalistas, há dois brasileiros, ambos por Portugal: Otto Glória, terceiro lugar em 1966, e Felipão, que levou a seleção lusitana ao quarto lugar em 2006.
A barreira do idioma também costuma estar presente. Só 32% dos técnicos estrangeiros tinham como língua materna o mesmo idioma dos jogadores da seleção que comandavam. Carlo Ancelotti, que chegou se esforçando para aprender português, entra para a maioria que precisou adaptar o vocabulário — embora traga consigo um currículo muito acima da média.
Entre os italianos, aliás, o retrospecto é especialmente fraco: seis trabalhos ficaram na fase de grupos, dois nas oitavas de final. Nenhum passou disso. Mas Ancelotti carrega um status diferente. Chega como multicampeão europeu, à frente de uma das seleções mais tradicionais do planeta. Será ele capaz de quebrar o jejum de 24 anos sem título mundial para o Brasil? “Sì o no”, a resposta virá com sotaque.
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Estreia nas eliminatórias
Depois de receber as bênçãos do Cristo Redentor, no Rio, no sábado, Ancelotti já está em São Paulo, onde iniciará a preparação para as partidas contra Equador e Paraguai pelas Eliminatórias da Copa. Neste domingo, ele assistiu a Corinthians x Vitória na Neo Química Arena. Nesta segunda-feira, os jogadores se apresentam e iniciam os trabalhos no CT Joaquim Grava, do Corinthians.
O primeiro treino será às 16h. Já na terça-feira, uma entrevista coletiva antecede o último treino antes da viagem para Guayaquil, no Equador, onde a amarelinha enfrenta a dona da casa na quinta-feira (5), às 20h (de Brasília), no Estádio Monumental Isidro Romero Carbo. A arena receberá um treino dos brasileiros na véspera do jogo.
Já na sexta-feira, de volta a São Paulo, os convocados da seleção treinam no CT do Corinthians, o que se repete até a véspera do jogo contra o Paraguai, terça (10), na Neo Química Arena, às 21h45.
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Quarta colocada entre as sul-americanas, a seleção brasileira tem 21 pontos e só depende de si para se classificar ao Mundial de 2026, que será realizado nos Estados Unidos, no Canadá e no México. A Argentina (31 pontos) é a primeira colocada, seguida por Equador (23) e Uruguai (21). A Bolívia, primeira seleção fora da zona de classificação ou repescagem, tem 14 pontos, a quatro rodadas do fim das Eliminatórias, que se encerram em setembro.
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