
O queniano Nicolas Kiptoo Kosgei, atual vencedor da Maratona de São Paulo, está desde dezembro no Brasil, quando foi quinto colocado na São Silvestre, e se preparou para buscar o bicampeonato nas ruas paulistas. Neste tempo, morou em Taubaté, na chácara do Luasa Sports, seu clube brasileiro.
A Maratona de São Paulo tem significado especial para ele. É até agora a prova do seu recorde pessoal. Em 2024, cruzou a linha de chegada com 2h16min25, com pace de 3min14 e velocidade média de 18.56 km/h. E também a prova que o faz lembrar de seu ex-treinador brasileiro, Luiz Antônio dos Santos, fundador do Luasa Sports e que faleceu em 2021 após uma parada cardíaca.
Kosgei havia sido convidado para a prova do ano passado para ser “coelho”. Mas, como esse atleta não pode finalizar a prova, sua função é dar ritmo, ele declinou do convite. O queniano correu para buscar o pódio. Kosgei não ficou à frente o tempo todo. Levou a corrida no seu tempo e ganhou em sua estreia, prestando homenagem a Luiz Antônio.

Luiz Antônio foi um fundista brasileiro de sucesso na década de 90, bicampeão da Maratona de Chicago (1993 e 1994), medalhista de bronze no Mundial de Gotemburgo-1995, na Suécia, e o primeiro a ganhar a Maratona de São Paulo há 29 anos. Teve como melhor tempo 2h08min55 na Maratona de Roterdã, em 1997 (pace de 3min03).
— No ano passado Kosgei quis vencer para fazer uma homenagem ao Luiz Antônio. Conseguiu. Agora quer o bicampeonato e arranjou outro simbolismo para fazer uma nova homenagem. A prova será no dia 6 de abril, data em que Luiz Antônio nasceu — conta Maria Justina Santana, viúva de Luiz Antônio e treinadora de Kosgei no Brasil.
Kosgei é um atleta profissional, vive apenas do atletismo. Mora em Iten, no Quênia e vem ao Brasil para disputar alguns eventos. Ele fica hospedado na fazenda da equipe Luasa, conhecida pela parceria com os atletas africanos. Justina diz que ele tem planilha de treinos feita pelo treinador Elkanah Rutto e que ela só faz os ajustes.
Ela conta que em Iten, Kosgei também gosta de cultivar a terra. Planta milho, feijão e batata para subsistência. Tem duas filhas. Quando vem ao Brasil costuma comer diariamente repolho e couve. Substitui o ugali, um mingau denso de farinha de milho, pelo fubá. E à noite toma um copo de leite. Kosgei não gosta de carne e come ovo, muita batata e arroz.
Diz que ele também não gosta de correr na chuva forte. Ele deixa de treinar quando a previsão do tempo se impõe. Ao menos no Brasil, Kosgei corre na pista de terra e não treina em esteira nem em pista oficial de atletismo. Tem resistência turbinada pelos treinos em altitude na sua cidade, que fica a 2.400 metros acima do nível do mar e conhecida por ter uma escola campeã de fundidas.
Para trabalhar a velocidade, Kosgei prefere os treinos fartlek, quando o esforço não é o mais intenso e a recuperação também não é a mais leve. A ideia é correr sem parar, alternando velocidades e controlando o ritmo. Faz treinos de cerca de uma hora nessa pegada.
— Esse ano ele não fez nada de pista. Fez mais rodagem na terra, em percursos com sobe e desce — comenta Justina, que diz que ele treina seis dias na semana e folga aos domingos. — Neste último mês, treinou em dois períodos e rodou diariamente de 20 a 25 quilômetros. Ou divide a quilometragem ou faz um treino só com 25 quilômetros ou um pouco mais. Ele não costuma fazer musculação, mas dá atenção à massagem e ao recovery com fisioterapeutas.
Kosgei faz bota de compressão pneumática (ajuda a circulação sanguínea), eletroestimulação (reduz a dor muscular) e liberação miofascial (relaxa a musculatura e libera tensões).
Também disse que ele voltará ao Quênia após a Maratona de São Paulo e que geralmente prioriza os treina, não competirá imediatamente.
Entre os estrangeiros, no masculino, estão inscritos Kosgei, William Kibor, vencedor da Meia Maratona do Rio e de Las Vegas em 2016, e Vestus Cheboi Chemjor, campeão da Maratona de São Paulo em 2023, ambos do Quênia. O tanzaniano Charles Boay Sulle, quarto colocado na Maratona de Kilimanjaro, completa a lista.
Além de sua vitória na Maratona de São Paulo em 2024, Kosgei também conquistou o título das Dez Milhas Garoto e da Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro, ambas no ano passado. Também em 2024, ele foi quinto colocado na Corrida de São Silvestre.
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